Desabrochar da Vida: setembro 2014

O homem carrega dentro de si uma tremenda capacidade para a música. Quando digo "homem", refiro-me a todo homem e, quando digo "música", não falo de música comum. Nem todos podem ser músicos, no sentido convencional. Só algumas pessoas têm esse talento. É algo inato, natural.
Minha definição de música é totalmente diferente: refiro-me à experiência interior da harmonia. Ela é muito mais musical que qualquer canção que possa ser criada: é música não criada. Nenhum instrumento é necessário. Você só precisa escutar em silêncio profundo. Ela já está lá. É sua vida. As pessoas zen a chamam de "som de uma mão aplaudindo".
Na música comum, sempre são necessárias duas coisas, e só com elas o som pode ser criado. Se você está tocando violino tem de usar as duas mãos nas cordas. Somente por meio da tensão criada pelos dedos é que as cordas criam música. Mas a música interior é algo que já está lá desde o começo. Ela é como batida do coração, só um pouco mais profunda, um pouco mais misteriosa. É a batida de seu verdadeiro coração.
Osho in Meditações para a Noite

A MulherSe é clara a luz desta vermelha margem
é porque dela se ergue uma figura nua
e o silêncio é recente e todavia antigo
enquanto se penteia na sombra da folhagem.
Que longe é ver tão perto o centro da frescura

e as linhas calmas e as brisas sossegadas!
O que ela pensa é só vagar, um ser só espaço
que no umbigo principia e fulge em transparência.
Numa deriva imóvel, o seu hálito é o tempo
que em espiral circula ao ritmo da origem.

Ela é a amante que concebe o ser no seu ouvido, na corola
do vento. Osmose branca, embriaguez vertiginosa.
O seu sorriso é a distância fluida, a subtileza do ar.
Quase dorme no suave clamor e se dissipa
e nasce do esquecimento como um sopro indivisível.

António Ramos Rosa, in "Volante Verde"